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A dor psíquica também sangra: quando o sofrimento não tem forma, mas fere profundamente

  • Foto do escritor: Ana Elisa Gonçalves Bortolin
    Ana Elisa Gonçalves Bortolin
  • 27 de jun.
  • 2 min de leitura

“A dor psíquica é uma dor que não se vê, mas que fere com a mesma intensidade da dor física.”

📖 – Nasio


Vivemos em uma sociedade que reconhece o sofrimento quando ele deixa marcas visíveis: uma ferida, um osso quebrado, um exame alterado. Mas o que dizer da dor que não se vê? Daquela que corrói por dentro, silenciosamente? A frase do psicanalista francês Juan-David Nasio nos convida a olhar com mais sensibilidade para o sofrimento psíquico — esse tipo de dor que, embora invisível, pode ser profundamente incapacitante.



A dor da alma não aparece em radiografias



A dor psíquica pode se manifestar em crises de ansiedade, estados depressivos, angústias sem nome, sensação de vazio, pensamentos obsessivos ou mesmo em sintomas físicos sem causa orgânica identificável. Ela grita em silêncios, em insônias, em afastamentos sociais, em ataques de raiva ou em choros solitários.

E, ao contrário do que muitos pensam, ela não é “fraqueza” ou “drama”. Ela é real.


Como afirma Freud, “a dor moral pode ser tão insuportável quanto a física, pois ambas envolvem a desorganização do Eu” (FREUD, 1917/1996). O sofrimento emocional, ainda que não possa ser medido por exames clínicos, tem impacto profundo sobre o corpo, a mente e as relações.



A ferida invisível e o corpo como palco



Para a psicanálise, o corpo é muitas vezes o palco onde se encena o que não pôde ser simbolizado com palavras. Quando o sujeito não consegue nomear sua dor, ela se transforma em sintoma — em forma de dores crônicas, fadiga persistente, compulsões, crises de pânico ou bloqueios.


O sofrimento psíquico, assim, não é apenas “tristeza”. É uma experiência subjetiva complexa, que pode ser paralisante e exigir tanto cuidado quanto uma doença física.



O perigo de invalidar o sofrimento do outro



Em um mundo pautado pela produtividade, há pouco espaço para escutar a dor do outro. Expressões como “isso é besteira”, “você precisa reagir” ou “tem gente em situação pior” apenas aumentam o isolamento de quem já está sofrendo.


Validar o sofrimento psíquico é reconhecer que sentir dor sem motivo aparente também é humano. E, mais do que isso, é essencial para que o sujeito possa encontrar um caminho de elaboração, de escuta e, gradualmente, de cura.



A escuta como forma de cuidado



Na clínica psicanalítica, o primeiro gesto terapêutico é escutar. Escutar sem julgar, sem interromper, sem apressar. Porque a palavra pode transformar a dor muda em linguagem. E, ao nomear o que machuca, o sujeito começa a encontrar saídas.


Como diz Nasio, a dor da alma é tão intensa quanto a do corpo — e muitas vezes mais difícil de suportar, porque é invisível aos olhos alheios. Mas ela não precisa ser vivida em solidão. Existe espaço para falar. Existe lugar para cuidar.





📚 Referências bibliográficas:



  • NASIO, Juan-David. O livro da dor e do amor. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

  • FREUD, Sigmund. Luto e melancolia (1917). In: ______. Obras completas, v. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

  • BIRMAN, Joel. Mal-estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

  • KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009.

  • WINNICOTT, Donald W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.


 
 
 

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