
A forma mais pura de escuta é estar presente, sem expectativas ou preconceitos. Ana Bortolin
- Ana Elisa Gonçalves Bortolin
- 8 de fev.
- 2 min de leitura
A escuta analítica deve ser livre de julgamentos, interpretações precipitadas e expectativas rígidas. Na psicanálise, o analista precisa estar totalmente presente, oferecendo um espaço seguro onde o paciente possa se expressar livremente. Isso significa não projetar crenças pessoais, não antecipar respostas e não buscar encaixar o discurso do paciente em teorias pré-concebidas. A escuta pura permite que o inconsciente se manifeste sem barreiras, favorecendo a associação livre e a emergência de significados profundos. Como Freud (1976) destacou em "Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise", o analista deve adotar uma postura de "atenção flutuante", evitando a tentação de selecionar ou interpretar prematuramente o material trazido pelo paciente. Essa atitude é fundamental para que o inconsciente se revele de forma autêntica.
A verdadeira escuta psicanalítica exige neutralidade e receptividade, permitindo que o paciente se escute e, assim, elabore suas próprias questões. Lacan (1998), em "Função e campo da fala e da linguagem na psicanálise", enfatiza que o analista deve funcionar como um "outro" que não impõe significados, mas sim abre espaço para que o sujeito descubra seus próprios sentidos. Nasio (2007), por sua vez, em "O livro da dor e do amor", reforça a importância de o analista estar emocionalmente disponível, mas sem interferir no processo de elaboração do paciente. Ele afirma que "a escuta analítica é um ato de amor, no sentido de que é uma doação de si mesmo ao outro, sem esperar nada em troca" (NASIO, 2007, p. 45).
Freud (1976), em "A questão da análise leiga", também ressalta que a escuta psicanalítica não deve ser contaminada por objetivos terapêuticos rígidos ou por uma busca excessiva por resultados. O analista deve confiar no processo e no tempo do paciente, permitindo que ele encontre suas próprias respostas. Nasio (1999), em "O prazer de ler Freud", complementa essa ideia ao afirmar que "a escuta analítica é um exercício de paciência e humildade, no qual o analista renuncia ao desejo de controlar ou dirigir o processo" (NASIO, 1999, p. 78).
Em síntese, a escuta psicanalítica é um instrumento fundamental para o trabalho analítico, pois cria as condições necessárias para que o inconsciente se manifeste e para que o paciente possa elaborar suas próprias questões. Ela exige do analista uma postura de neutralidade, receptividade e disponibilidade emocional, sem julgamentos ou expectativas rígidas. Como demonstrado pelas obras de Freud, Lacan e Nasio, essa prática é essencial para o sucesso do processo analítico.
Referências:
FREUD, Sigmund. A questão da análise leiga. In: ______. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. 20, p. 177-238.
FREUD, Sigmund. Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In: ______. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. 12, p. 119-144.
LACAN, Jacques. Função e campo da fala e da linguagem na psicanálise. In: ______. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 238-324.
NASIO, Juan-David. O prazer de ler Freud. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
NASIO, Juan-David. O livro da dor e do amor. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.




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