
Busque a vida que você sonha, mas não deixe de viver a vida que você tem
- Ana Elisa Gonçalves Bortolin
- 3 de jul.
- 2 min de leitura
Vivemos em uma era de metas, planos e projeções. Somos constantemente incentivados a visualizar o futuro, traçar objetivos e trabalhar incansavelmente para alcançar uma “vida ideal”. Sonhar é importante — é o que impulsiona o ser humano a evoluir, crescer e transformar a realidade. No entanto, ao nos fixarmos apenas no que falta, podemos nos desconectar do que já temos.
A frase “Busque a vida que você sonha, mas não deixe de viver a vida que você tem” nos convida a um equilíbrio raro: esperança com presença, futuro com gratidão, ambição com realidade.
Muitas vezes, olhamos para frente como se a felicidade estivesse sempre em algum lugar além do agora. Adiamos a alegria, a leveza e até o amor, pensando: “Quando eu conseguir aquele emprego… Quando eu emagrecer… Quando eu tiver uma casa maior…” E assim, a vida vai sendo empurrada para depois.
Na clínica psicanalítica, é comum escutar pacientes que vivem num eterno “quase”. Quase felizes, quase realizados, quase livres. Desejam uma vida diferente, mas também não conseguem habitar plenamente o momento atual. Freud já alertava sobre o risco de repetirmos padrões inconscientes que nos aprisionam no sofrimento ao invés de abrirmos espaço para novas experiências. Para ele, o sujeito muitas vezes resiste à mudança não por incapacidade, mas por medo do que representa o novo (FREUD, 1914).
Jung, por sua vez, apontava que “o que você resiste, persiste” (JUNG, 1953). Ou seja, quanto mais negamos a realidade presente, mais ela nos domina. A vida que temos hoje é o solo onde o futuro será plantado. Negá-la é como tentar construir um castelo sobre a areia.
Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, nos lembra que o sentido da vida pode ser encontrado mesmo nas situações mais difíceis. Para ele, “a vida nunca se torna insuportável pelas circunstâncias, mas apenas pela falta de sentido e propósito” (FRANKL, 2008). Ou seja, mesmo enquanto buscamos algo maior, precisamos encontrar significado no que está aqui, agora.
Não se trata de se conformar, mas de se comprometer. Comprometer-se com a realidade presente como um ato de amor próprio. Reconhecer as belezas e os aprendizados que já fazem parte da sua história. Valorizar as pequenas vitórias, os afetos cotidianos, o simples ato de respirar com gratidão.
Portanto, continue sonhando. Mire alto, se mova em direção àquilo que você acredita. Mas lembre-se: a vida que você tem hoje também merece ser vivida com inteireza, com presença e com carinho.
📚 Referências Bibliográficas:
FREUD, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar (1914). In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, volume 12. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 1953.
FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. 33. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
KABAT-ZINN, Jon. Onde quer que você vá, é lá que você está. São Paulo: Editora Alaúde, 2017.
TOLLE, Eckhart. O poder do agora: Um guia para a iluminação espiritual. São Paulo: Sextante, 2004.
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