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Cada Um Ama do Seu Jeito: Quando a Literatura Encontra a Psicanálise

  • Foto do escritor: Ana Elisa Gonçalves Bortolin
    Ana Elisa Gonçalves Bortolin
  • 4 de jul.
  • 2 min de leitura

“Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar.”

📖 Machado de Assis


Essa frase, aparentemente simples, carrega uma profundidade imensa — e nos convida a refletir sobre os diferentes modos de amar. Para além das idealizações românticas, Machado nos apresenta um amor real, humano e atravessado pelas marcas da existência.


🧠 O olhar da psicanálise: amar é sempre subjetivo


Na clínica psicanalítica, aprendemos que ninguém ama de forma neutra ou pura. Amar é um ato profundamente marcado pela história de cada sujeito, pelas suas faltas, seus traumas, suas idealizações e suas defesas inconscientes. Freud já nos alertava que o amor é sempre atravessado por projeções. E Lacan complementa:


“Amar é dar o que não se tem a alguém que não é.”

📖 (LACAN, 1958, O seminário – livro 8: A transferência)


Ou seja, o amor não é um encontro de completudes. É justamente a falta que move o desejo e permite a construção de vínculos.



💔 O amor imperfeito é o mais verdadeiro


Muitos adoecem tentando amar “da forma certa”, conforme padrões impostos pelas redes sociais, pela cultura ou pelas exigências internas. Tentam ser o parceiro ideal, o filho perfeito, o “amor da vida de alguém” — e, ao menor sinal de conflito, se sentem fracassados.


Mas amar verdadeiramente não é sobre estar sempre bem ou nunca errar. É sobre se permitir estar presente, mesmo diante das próprias imperfeições. É sobre sustentar o vínculo quando há dor, escuta quando há silêncio, e presença quando há falhas.



💬 Por que essa reflexão é importante?


Porque ela nos liberta da ideia de que só um tipo de amor vale.

Nos ensina que amar do nosso jeito — ainda que torto — também é válido, desde que haja sinceridade, presença e afeto.


Na prática clínica, vejo muitas pessoas adoecidas por acreditarem que não sabem amar ou que amam “demais” ou “de menos”. A verdade é que ninguém ama igual. E isso não torna o sentimento menor — apenas mais humano.


✨ O essencial é amar


O amor não é algo que se mede em gestos grandiosos ou frases perfeitas. Às vezes, o amor está no cuidado silencioso, no esforço de permanecer, no olhar que acolhe, no tempo compartilhado mesmo em meio ao caos.


É por isso que a frase de Machado de Assis segue tão atual:

O modo pouco importa. O essencial é amar.


📚 Referências:


  • ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ática, 1997.

  • FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Imago, 1905.

  • LACAN, Jacques. O seminário, livro 8: A transferência. Zahar, 1992.

  • NASIO, J.-D. O prazer de ler Freud. Zahar, 2000.


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