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“Confie no processo”: e quando o processo parece não fazer sentido?

  • Foto do escritor: Ana Elisa Gonçalves Bortolin
    Ana Elisa Gonçalves Bortolin
  • 7 de jul.
  • 2 min de leitura



“Confie no processo”, dizem.

Mas será que o processo sabe que a gente tá confiando nele? 😂


Brincadeiras à parte, essa é uma das frases mais ouvidas — e talvez uma das mais difíceis de viver — por quem está em processo terapêutico.


A análise não é uma linha reta.

É montanha-russa. É travessia.

É silêncio, desconforto, dúvidas, repetições… e, aos poucos, transformação.


Em muitos momentos, o paciente pode se sentir perdido, desmotivado, até mesmo confuso. Por que estamos voltando a tocar em dores que pareciam resolvidas? Por que determinados sintomas estão mais intensos do que antes?


🧠 Isso não significa que algo está dando errado. Pelo contrário: pode ser o indício de que justamente agora o inconsciente está sendo escutado. As defesas começam a ceder, os conteúdos encapsulados vêm à tona — e é nesse momento que o processo analítico se revela mais potente.


Como já dizia Freud:


“É necessário permitir ao paciente reviver fragmentos de sua história, não apenas como lembrança, mas como ação, como repetição.”

📖 (FREUD, 1914/1996, “Recordar, repetir e elaborar”)


Na clínica psicanalítica, não existem atalhos, fórmulas prontas ou interpretações mágicas. Trabalhamos com o tempo do inconsciente — que é lógico, não cronológico. Ou seja: não adianta querer “entender logo” ou “resolver rápido”. A repetição é parte do caminho.


✨ Lacan nos oferece uma frase instigante:


“A verdade tem estrutura de ficção.”

📖 (LACAN, 1953/1998, “Função e campo da fala e da linguagem”)


Essa ideia nos convida a refletir que, muitas vezes, aquilo que acreditamos ser “a nossa verdade” é apenas um enredo que criamos para suportar a vida, para dar conta do trauma. A análise, nesse sentido, não busca culpas ou verdades absolutas — mas a possibilidade de reescrever a própria história sob uma nova perspectiva.



E quando dá vontade de desistir?



É comum, em algum ponto da análise, surgir o desejo de interromper. A dor que aparece parece ser demais. O silêncio incomoda. A repetição frustra. Mas isso também é parte do processo: colocar-se diante da própria história sem defesas não é simples — mas é profundamente libertador.


🩹 Confiar no processo não é esperar por milagres.

É sustentar a travessia.

É aceitar que nem tudo será compreendido de imediato, mas que algo está se movendo. E quando algo se move internamente, já há transformação.


Por isso, se você está em análise e sente insegurança, desconforto ou até medo… fique. Fale sobre isso. Traga essas angústias para a sessão.

O que incomoda é justamente o que precisa ser olhado.


Porque a dor que emerge não é nova. Ela só estava silenciada.




Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar (1914). In: Obras Completas, volume 12. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

LACAN, Jacques. Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise (1953). In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

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